sábado, dezembro 8

Cimeira Europa - África


Já diz o provérbio popular brasileiro que, «quem nasceu para lagartixa, nunca chega a jacaré».
E é bem verdade, quando comparamos o actual primeiro-ministro britânico, um digníssimo membro do partido trabalhista, com o anterior, Tony Blair, um homem de Estado e um verdadeiro gentleman que, apesar de ainda não tendo dado por finalizada a sua participação na política, irá, com toda a certeza, "ficar para a história", assim como Bill Clinton, o presidente da ala democrata dos Estados-Unidos que tudo tentou para pacificar os ânimos, no sentido de se chegar a um entendimento no conflito israelo-palestiniano.
Tony Blair teria estado presente na cimeira Europa – África, neste momento, a decorrer em Lisboa, porque basicamente a animosidade dos ingleses não se prende com as políticas dos Estados africanos que ferem de morte os pressupostos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas sim com os agricultores (fazendeiros) ingleses no Zimbabwe, que foram expropriados dos domínios que exploravam com o beneplácito do governo de Robert Mugabe.
Tony Blair teria encontrado uma justificação plausível aos olhos dos ingleses para legitimar a sua presença na cimeira.
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Mas a cimeira realizou-se e está a ser um sucesso, na medida em que estão presentes os chefes de Estado dos países mais influentes do continente africano, o que já por si significa que eles estarão abertos a transigir nas suas políticas autoritárias ou despóticas. Caberá, portanto, à Europa unida, promover a criação de uma plataforma de entreajuda que vise, não só minorar as condições sub-humanas em que vivem os seus povos, através de planos de investimento adequados ao desenvolvimento das suas economias, mas também sensibilizar os seus respectivos líderes a transverter as políticas sociais e humanas dos seus países, isto, independentemente, de a Europa vir daí a tirar os seus benefícios, como fará todo o sentido.
Portugal é o grande anfitrião, representado por José Sócrates e apoiado por Angela Merkel (presidência tripartida) que, ao contrário de Luís Amado, já provou que domina as regras fundamentais que «escrevem» a realpolitik, primeiro passo a dar para o ponto de partida diplomático que é necessário estabelecer com os líderes dos Estados africanos, no sentido de lhes mostrar o caminho para a criação de sociedades mais pacificadas, menos beligerantes, mais equitativas, menos desiguais.
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Quanto à imprensa internacional, na sua grande generalidade, mais uma vez, ao invés de informar com isenção e sentido de responsabilidade, reservando o diferendo Brown – Mugabe para o plano do acessório (os meios de comunicação estão hoje mais do que nunca eivados da panóplia dos interesses que os amarram aos grilhões dos vários contrapoderes), seguiu as motivações da imprensa britânica traduzidas num «ne pas être à l’aise» de um primeiro-ministro que mostrou não conviver bem com a agenda internacional desta presidência Europeia.

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