domingo, maio 27

O deserto do Poceirão



Não há dúvida de que a política desgasta. Desgasta os governantes, desgasta a oposição, desgasta os cidadãos, os próprios meios de comunicação já se encontram em avançado estado de desgaste, posto que já passaram a considerar assunto de “prime time” as observações infelizes, feitas pelo Sr. Ministro das Obras Públicas, e que vieram substituir o até agora tido como “tema de capa”, o desaparecimento da pequena Madeleine.
O dossier da construção do novo aeroporto na Ota está a tornar-se num tema altamente polémico e socialmente fracturante, em que as posições dos que defendem a construção naquele sítio e as dos que se lhe opõem, estão de tal forma extremadas que, caminhamos a passos largos para que o diferendo venha a ser “mediado” pela intervenção das forças policiais, obrigadas que se verão a pôr na ordem os partidos da oposição e o partido do governo. É claro que este é um quadro hipotético, inverosímil num país que faz parte da União Europeia, que se pretende actue civilizadamente perante os seus cidadãos. Mas, não estaremos nós mais próximos de um Brasil ou de uma Venezuela, do que de uma Alemanha, de uma Grã-Bretanha ou até mesmo de uma Espanha?
Num país civilizado, este dossier seria debatido dentro dos gabinetes, as informações sobre a sua evolução, veiculadas pelos respectivos gabinetes de imprensa. O Sr. Presidente da República não teria que ser sujeito a fortes pressões no sentido de intervir publicamente com a sua opinião - aqui fazendo-se substituir à tal força policial - posto que esta é uma matéria da competência do governo, não sendo um assunto de Estado, e compete ao governo tomar a decisão final. É preciso que a oposição respeite a maioria dos votos dos cidadãos que sufragaram o programa do governo que se encontra no exercício das suas funções. Os interesses dos partidos, de per si, não se podem sobrepor ao interesse nacional que se prende com a premência da construção de um novo aeroporto, e o governo, por sua vez, beneficiando de uma poderosa base de sustentação (que se prende com o prejuízo financeiro traduzido na quebra de receitas, pela impossibilidade prática de companhias aéreas como as de low cost, hoje protagonistas de grande parte do afluxo do tráfego aéreo internacional, não poderem aterrar em Lisboa por razões logísticas) não a utiliza, preferindo alimentar trocadilhos, traduzindo em jogos de palavras o seu patente cansaço motivado por um país em estado de evidente colapso humanitário e cultural.

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