quarta-feira, agosto 29

Cooperação portuguesa no combate ao separatismo basco


A tempestade que os espanhóis não estão a fazer no copo de água que são as intenções activistas do comando da organização separatista basca ETA, em território português!
Porque carga de água é que esta organização separatista iria perpetrar atentados em Portugal, quando a base do problema reside em Espanha? O que não quer dizer que quanto maior for o intercâmbio e a cooperação entre os governos dos dois países em prol desta causa anti-separatista defendida pela Moncloa, maior será a probabilidade de Portugal vir a ser afectado pelo efeito ricochete que desta contenda advier.
Penso que este é um sinal a que o nosso governo deverá estar atento, porque, a partir de agora, irão ser exercidas todo o tipo de pressões, junto da magistratura de influência portuguesa, para que seja dado livre trânsito às autoridades jurídicas e judiciárias espanholas, no sentido de poderem actuar no nosso espaço jurisdicional como muito bem entenderem.
Já ficou provado no caso Maddie que o termo “cooperação”, no contexto europeu, pressupõe sempre supremacia de poder da parte de um dos lados. E isto tem, nomeadamente, a ver com o grau de influência que cada estado-membro exerce no seio dos respectivos centros decisórios da União, e que está directamente ligado ao índice de credibilidade que inspira junto dos estados-membros nucleares, designadamente dos fundadores que contribuíram para a maior parte dos fundos comunitários que foram atribuídos. No caso da Espanha, o respeito que já lhe é reconhecido como estado hegemónico, provem da sua grande autonomia financeira, consolidada pelo crescimento económico dos últimos anos.
Mas voltando à questão essencial deste post, penso que o que quer que oponha o governo central espanhol ao movimento separatista basco, deverá ser resolvido das portas para dentro, sem o envolvimento de terceiros, neste caso de Portugal. A Espanha tem que saber libertar-se dos resquícios caudilhistas de inspiração franquista, como táctica recorrente no combate ao separatismo, optando pela estratégia diplomática que induz ao bom senso, e lhe permita achar uma solução para o conflito pela via pacífica, à semelhança da que foi encontrada no caso muito idêntico da Irlanda do Norte.

segunda-feira, agosto 27

A cultura portuguesa e o projecto europeu


Na imprensa estrangeira europeia, nem uma palavra sobre Eduardo Prado Coelho. Pelo menos na imprensa escrita de referência que consultei até ao momento.
Esta omissão, por parte dos meios de comunicação sediados no espaço europeu, tem para mim duas interpretações.
A primeira é sintomática do peso que o nosso país tem nos círculos de influência representados pela Diplomacia Europeia que integra, primeiro a Europa dos 15, e posteriormente a Europa dos 27 estados-membros. Trata-se, pois, de um peso nulo. A maior culpa deste estado de coisas, cabe aos nossos governantes que não têm sabido administrar devidamente a área de competências reportada à selecção dos meios técnicos e humanos destinados à divulgação da nossa cultura nos países da União Europeia, através da revelação daquele que é o mosaico pluridisciplinar do nosso saber em convergência com a nossa tradição histórica e respectivos agentes.
A figura do adido cultural é uma peça fundamental do xadrez político que desenha a nossa hegemonia identitária enquanto país cultural, e, de uma maneira geral, as entidades que têm vindo a ser indigitadas para esses cargos, muito pouco ou nada têm feito nessa área, excepção feita a Eduardo Prado Coelho, com o trabalho de divulgação que desenvolveu em França. Já o mesmo não podendo ser dito dos resultados obtidos no contexto inglês, em que as motivações político-partidárias falaram mais alto, com o consequente resultado que está à vista.
Noutro parâmetro, o caso Maddie é paradigmático do respeito que os ingleses mostram pelas nossas instituições, o que é o mesmo que dizer pelo nosso país, por nós, portugueses.
A segunda interpretação é fruto de alguma reflexão. Temos vindo a viver momentos de grande euforia e de franco optimismo no que diz respeito à réussite do projecto europeu, às oportunidades que esperamos vir a obter, num cenário de crescimento económico, de bem estar social e de convergência política, em pé de igualdade com os vários estados. No entanto, e perante a indefinição e certas incompatibilidades que subsistem no seio da União Europeia, pode ser que esse ideal de projecto europeu não venha a passar de uma quimera, que só mais tarde realizaremos, após havermos hipotecado parte da nossa hegemonia em nome de uma causa comum. Esta seria uma forma pouco convencional de colonização, de perda de identidade, arquitectada a partir da secretaria. Já nada me admira neste mundo surreal da politica da dissimulação e do egocentrismo.

sábado, agosto 25

Carta enviada a partir de Berlim


Sigo pela rua Linien, num sossegado bairro residencial da antiga Berlim Leste, a caminho do meu local de trabalho. Reduzo o passo para ver os novos grafitis. Um Banksy! E 16 novas inscrições de um Calyba, ou Kalyba, um grafiter local tão incapaz, que nem sequer consegue escrever o seu próprio nome.
Encontro uma linda cadeira no passeio. Dou meia volta, levo-a para casa, continuo a andar… Um pequeno trampolim. Em casa não temos um trampolim. Levo-a para casa… Não tenho pressa. Está um lindo dia de sol. Não há insectos. Em Berlim não existem insectos. Não faço a menor ideia porquê.
Na verdade não conheço Berlim; ninguém conhece, porque simplesmente ela não existe. Existe unicamente um grupo de vilas urbanas muito juntas que não têm nada em comum, nem mesmo a sua história. Algumas de entre elas eram comunistas até há bastante pouco tempo. Outras capitalistas. Agora não são nada. O comunismo não resultou e o capitalismo é precário, com 16 por cento de taxa de desemprego e uma vasta dívida externa de 60 bn de Euros. Decerto que não pretendem tão depressa tentar um novo nacionalismo ou socialismo. Berlim tem o olhar assumido de uma cidade em que a realização de grandes ideias deixá-la-iam só por uns tempos.
Aqui, no coração do centro histórico, as varandas dos apartamentos do tempo da República Democrática Alemã estão a cair. Naquele tempo não havia muito cimento, por isso completava-se a argamassa com mais areia. Berlim tem muita areia e construiu uma cidade inteira na base da areia, contrariamente aos ensinamentos bíblicos. Talvez isso explique muita coisa.
Berlim! Cidade de mulheres confiáveis e de homens assustados! Berlim! Cidade de arquitectos deprimidos e de anarquistas felizes!
A partir de 1989, começaram a construir a pensar no futuro, mas este não chegou. Vieram foi artistas. Centenas de milhares de artistas. Uma praga de artistas vindos de todo o lado.
O mundo colocou em outsourcing a sua produção de arte para Berlim. Berlim está para a arte moderna de má qualidade, assim como a China está para os gatos de plástico que levantam e baixam uma pata com o mais feliz dos ares.
Os artistas precisam de três coisas: apartamentos baratos, estúdios baratos e cerveja barata. Muitas pequenas cidades e as zonas dos subúrbios mais distantes e inóspitas oferecem-lhes isso. Mas os artistas notoriamente menos realistas, também querem viver no coração de uma grande cidade, no meio de um cenário gay florescente, de transportes públicos fabulosos, óptimos nightclubs, experimentando uma ligeira sensação de perigo, sem que, na realidade, exista perigo algum.
Berlim é uma cidade construída para 4.5 m de pessoas quando só tem 3.5m. Existem 100,000 apartamentos vazios e mais edifícios industriais disponíveis do que ocupados. O artista Thomas Demand e o art-star islandês Olafur Eliasson, partilham uma fábrica com um espaço proporcional ao da lua, localizada a escassos minutos do Museu de Arte Contemporânea de Berlim, Hamburger Bahnhof. Em Manhattan, perto do Museu de Arte Moderna MoMA, pelo mesmo valor conseguiriam um espaço para guardar os sapatos, pelo menos, alguns deles.
Klaus Wowereit, o gerente de um clube gay em Berlim, disse: “Berlin ist arm, aber sexy.” „ Pobre mas sexy“ é a inscrição nas T-shirts dos berlinenses: “I heart NY”. Irrita os locais, mas encerra uma grande verdade num tão pequeno espaço.
Eu e o amor da minha vida, fomos despejados da nossa casa em Galway, por não ter pago a renda. (Escritor e artista, a tentar suportar uma renda no centro da cidade dos Celtic Tiger! (Percebem o que eu quero dizer? É preciso cair na real.) O curso da história, expresso em termos económicos, empurrou-nos em direcção a Berlim. Os preços reduzidos das viagens aéreas permitiram aos artistas deslocarem-se para fora dos seus países. Emigrámos através da Ryanair, por 1 Euro. Todos os nossos haveres foram reduzidos ao mínimo de bagagem permitido por pessoa. E os apartamentos em Berlim nem sequer têm suportes de lâmpadas, quando se muda de casa.
Na zona norte, Berlim pratica a “gift economy”. Toda a gente deixa na rua tudo o que não utiliza. Se pretendes começar de novo a tua vida, sem quaisquer gastos, arriscando-te, fá-lo em Berlim, um rio mágico de uma trampa cada vez mais envelhecida, em constante reciclagem.
Em Berlim Leste existem lojas, uma espécie de lojas. Mas só vendem malas ao ombro de um único designer, ou bicicletas ou carregadores de telemóveis, ou discos de vinil em segunda mão, de uma conhecida ilha das Caraíbas.
A velha piada comunista de que, “ Nós fingimos que trabalhamos e eles fingem que nos pagam”, transformou-se na nova piada capitalista: “ Nós fingimos que gerimos uma loja e vocês fingem que vão comprar qualquer coisa.” Agora, metade das lojas são galerias de arte. É a ideia infantil de uma economia equilibrada.
À medida que desço a rua Gormann, abre-se uma janela e Rasmus Hansen assoma, cumprimentando-me. Ele dirige uma galeria de arte a partir do seu quarto. Continuo a andar, viro em direcção à rua Tor, Fleischerei dispõe objectos artísticos nos espaços de congelação desactivados de um antigo talho. Livros sobre a arte da fotografia, T-shirts artísticas, arte arte. Os tipos estão sentados nos degraus com um olhar melancólico. O edifício tem um novo dono. Acima de nós, num andaime revestido de plástico, um anúncio à Nike.
Na esquina, a sex shop acaba de fechar. A “gentrificação” da rua Brunnen acontece de uma forma tão rápida, que pode ser vista em tempo real. A propagação das galerias de arte nesta rua, fazem lembrar os fungos de um sapato molhado nos trópicos. As galerias de arte de Nova Iorque estão a abrir outposts. Em breve, Berlim será o centro do mundo da arte do ocidente. Não vai demorar muito tempo, a ascensão, a queda. Tudo de uma forma acelerada.
A dois passos, a antiga loja de produtos de informática está a ser desmantelada para se transformar numa galeria. A um passo, o jovem artista escocês, Kevin Harman constrói uma escultura através da recuperação de escombros. Sem licença, sem galeria, só pelo prazer de construir algo que não envolva dinheiro. Amanhã, os construtores removê-la-ão. “ Está a ficar bonita Kev ,” digo. Salto para o outro lado e começo a fazer o mesmo.
*
Julian Gough, escritor, autor de Jude: Level 1
Prospect, revista inglesa



terça-feira, agosto 21

Ecoterrorismo


O Sr. Ministro da Administração Interna acha que à invasão de propriedade alheia nos termos do incidente ocorrido neste fim-de-semana, num campo de cultivo em Silves, não poderá chamar-se de ecoterrorismo, uma vez que não envolveu armas de fogo ou armas brancas, mesmo que esses actos tenham sido praticados em nome do “interesse público”, como foi, desacauteladamente, afirmado pelos respectivos activistas beligerantes.
Por muito menos, já estudantes portugueses foram presos na Letónia, acusados de profanação da bandeira nacional daquele país.
Esta ingerência em propriedade privada traduziu-se num acto de puro vandalismo e teve como único objectivo testar a operacionalidade das associações de jovens desocupados que, no fulgor da sua juventude são levados a defender as causas mais estapafúrdias, sendo liderados por outros grupos com interesses politico-partidários, cujo objectivo é gerar a instabilidade social e política, através de mandatos explícitos de manifestações de má fé, lesivas da integridade moral e patrimonial dos cidadãos.
Por detrás desta iniciativa, esteve seguramente o apoio logístico de um partido político que, na minha opinião, se terá estendido à própria força policial que, como é sabido, de norte a sul do país, nem sempre professa a mesma doutrina, no que diz respeito à leitura, aos métodos e ao regime sancionatório que aplica.
A reforçar esta minha afirmação, está o facto de só terem sido identificados seis indivíduos, num total de, pelo menos, sessenta, por não serem portadores de documento de identificação, conforme foi noticiado. Muito a propósito aliás, num país de brandos costumes como é o nosso, em que alguém sem identificação, que se envolve numa desordem, não é, de imediato, conduzido ao posto policial, como acontece no estrangeiro, em todos os países civilizados.
Por outro lado, os que foram identificados, também não nos dão garantias de poderem ser criminalizados pelos seus actos de vandalismo. O nosso Código Penal é exemplar quando se trata de aplicar penas a autores de blogues que ousam ofender a dignidade dos altos dignitários da Nação, mas ponderado sempre que a aplicação da pena se cruza no caminho de uma circunstância atenuante. A falta da tomada de medidas enérgicas a que nos habituámos, perante estes atentados ao bem-estar público, e a consequente permeabilidade da nossa jurisprudência, serão sempre factores de descrédito das nossas instituições, nos juízos que se estabelecem além fronteiras. Daí que o nosso índice de respeitabilidade se encontre sempre em baixa, sem que contra isso, nós, na qualidade de meros cidadãos indefesos, nada possamos fazer.

domingo, agosto 19

A arquitectura de excelência


DZ Bank em Berlim, lobby interior com sala de conferências

Projecto da autoria do arquitecto FRANK GEHRY


Existe uma relação directa entre a arquitectura de vanguarda aliada à divulgação da cultura e das artes e a promoção da indústria turística

A bolioligarquia de Hugo Chávez


O petróleo ao serviço da causa socialista é a imagem da Venezuela que Hugo Chávez pretende transmitir para o exterior. Mas esta imagem de socialismo não é mais do que a aliança entre um populismo militar e um estatismo neo-marxista, aos quais Chávez se propõe subjugar o seu país.
A realidade, bem diferente deste cenário ideal de democracia ao serviço do povo venezuelano, é traduzida pelo crescente número de agricultores e pequenos industriais que vêem as suas actividades paralisadas, em virtude de não conseguirem competir com os preços dos produtos importados dos países periféricos, nomeadamente o Brasil. É o caso da cadeia brasileira de comércio grossista Mercal que tem vindo a enriquecer com o fornecimento de frango congelado para o mercado venezuelano, enquanto que os ranchos locais estão praticamente extintos, ameaçados pelas expropriações e pelo controlo dos preços. As suas terras correm o risco de ser invadidas, e os rancheiros estão constantemente a ser alvo da prática de extorsão e sequestro por parte de gangues criminosos.
O “chavismo” que, por sua vez é um produto que veio suprimir as carências e as misérias provocadas pelos regimes anteriores, está a alimentar o ressurgimento de uma nova classe na Venezuela, a boli-burguesia, identificada pelos novos-ricos que crescem à sombra do “socialismo bolivariano”, protegidos pela riquíssima infra-estrutura petrolífera do Estado. Nas ruas de Caracas proliferam os 4x4 novos. Os melhores restaurantes estão sempre superlotados e os importadores de whisky, assim como os “art dealers” vivem momentos de grande prosperidade.
O sector bancário é o mais favorecido pela economia venezuelana. Devido à elevada procura externa do crude e, consequentemente, ao aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais, a economia apresenta um crescimento de 10 % ao ano, enquanto que os índices de inflação traduzem um aumento de 20 %, e o câmbio oficial da moeda é duas vezes superior ao da sua cotação no mercado negro.
Sob o seu regime bolioligárquico, onde reina o tráfico de influências, o conhecimento político certo significa a password de acesso ao universo do enriquecimento fácil e ilícito, sob o signo de uma nova ordem que estabelece incondicional obediência política.

Fonte: The Economist print edition,
*******Aug 9th, 2007

sábado, agosto 18

A arte de fotografar multidões nuas

Nús de Spencer Tunick -Teatro Municipal de Bruges, Bélgica

Spencer Tunick é um fotógrafo americano que se especializou na técnica da fotografia do nú colectivo.
Após quinze anos a trabalhar neste tipo de performance, transformou-se no fotógrafo mais célebre do planeta, ao fotografar multidões de pessoas nuas nos mais diversos locais, desde as ruas de Newcastle aos canais de Bruges na Bélgica, passando pelos desertos do Nevada aos jardins de Düsseldorf, na Alemanha. Um dos seus trabalhos mais polémicos contou com a presença de 18000 figurantes na capital do México, sob fortes protestos da igreja católica local. No entanto, um dos mais emblemáticos foi o de fotografar mulheres comuns, passeando-se pelas ruas de Nova Iorque, em tronco nu, independentemente da idade, da cor e do aspecto físico.
Neste fim-de-semana, Spencer Tunick emprestará a sua arte à causa da organização ecológica Greenpeace, ao fotografar nus, milhares de suíços, franceses e alemães, sob o fundo branco glaciar da zona do Haut-Valais nos Alpes suíços. O objectivo, segundo aquela organização, é chamar a atenção para a fragilidade da humanidade e do seu meio ambiente face à problemática do sobreaquecimento climático.
As fotos aqui.

sexta-feira, agosto 17

A arquitectura de excelência


Museu Guggenheim de Bilbao

Projecto da autoria do arquitecto FRANK GEHRY


Existe uma relação directa entre a arquitectura de vanguarda aliada à divulgação da cultura e das artes e a promoção da indústria turística

terça-feira, agosto 14

Intolerância


O próprio escritor Miguel Torga, estaria longe de pensar que, passados dezoito anos sobre a sua morte, viesse a ser o pólo catalizador de um tão alto momento de oposição política ao governo, por parte de todos os partidos com assento parlamentar, dos quais me permito destacar o mais importante: o temível, o poderoso e o resistente, “incrível PSD”, cujo líder, que tanto combateu o caciquismo nas autarquias, vem agora caucionar o terrorismo insular à la Jardim, com os olhos postos na contabilidade eleitoral, tornando-se assim no novo Fausto da vida pública nacional. (sic)
Chamaram a si o dever de se opor todos aqueles que não sendo políticos profissionais se preocupam com a inoperacionalidade de certos orgãos institucionais que tutelam a área da saúde pública em Portugal, ou que têm a seu cargo a gestão das plataformas logísticas relacionadas com a circulação de pessoas e bens, nomeadamente no que concerne aos sistemas de “handling” dos nossos aeroportos. Dois dos actuais temas fracturantes a envolver a sociedade civil, que deveriam merecer a melhor atenção dos nossos governantes e também das respectivas forças da oposição.
Posso ser tolerante com a falta de comparência da Sra. Ministra da Cultura nas cerimónias comemorativas do centésimo aniversário do poeta e escritor Miguel Torga, mas serei inexoravelmente intolerante pelos 20 mil doentes em lista de espera há mais de dois anos ou pelos doentes que esperam mais de um ano para serem operados ao cancro.
(sic)
Neste último caso, e do ponto de vista da constitucionalidade, estaremos perante a prática de um ilícito cuja leitura jurídica não ficará muito aquém do quadro legislativo que aponta para a figura do homicídio por negligência. A política reformista que o governo tem levado a cabo na área da saúde, deveria ser extensiva à criação de condições que permitissem suprimir definitivamente o problema das listas de espera que desde há vários anos se tem vindo a transformar numa autêntica “doença” endémica. Torna-se urgente que o governo disponibilize meios que possibilitem inclusivamente que os doentes sejam deslocados para outros países em que a oferta dos meios técnicos e humanos, no domínio da cirurgia, seja superior à da procura.
A minha inexorável intolerância é igualmente extensiva à completa incúria que se está a passar com a gestão dos sistemas de “handling” do nosso sector aeroportuário, resultante do blackout que se instalou no tratamento das bagagens e nos contínuos atrasos com o cumprimento dos horários das carreiras de voo. O regresso de férias está a ser para milhares de portugueses, em especial os que usam o Aeroporto Sá Carneiro, uma experiência aterradora, os abusos da TAP são conhecidos mas desde há algum tempo acrescentaram-se os conflitos entre a TAP e a Groundforce. (
sic)
Também aqui o governo parece passar ao lado de uma realidade que denota a incapacidade de lidar com um problema que terá essencialmente a ver com as greves que têm vindo a ter lugar, sob o patrocínio do Sindicato dos Técnicos de Handling, e cujas datas foram cirurgicamente escolhidas, para a época estival. O bom funcionamento das estruturas de apoio ligadas à aviação comercial, está directamente relacionado com o sucesso dos índices de crescimento da nossa indústria turística, um dos motores do desenvolvimento da nossa economia.

sábado, agosto 11

O caso insólito da Praia da Luz


Oito horas da manhã. Acabo de estacionar o automóvel no empedrado junto à praia e dirijo-me em direcção ao areal pela passagem pedonal que tem a forma de uma passadeira de madeira.
Ao fundo, junto ao mar, o som emanado pela rebentação das ondas chega até à minha percepção misturado com umas notas musicais que se soltam de um instrumento algures perdido nas mãos de alguém que, como eu, pretende usufruir da privacidade e da tranquilidade que aquele espaço nos reserva.
Já há alguns anos que, invariavelmente, passo férias na Praia da Luz. Uma vila pacata, onde reside uma comunidade inglesa já com alguma projecção, disseminada por vários extractos sociais, que controla quase todo o comércio local, incluindo a exploração dos resorts, dos restaurantes, dos bares, das casas de diversão nocturna etc.
Quando tive conhecimento do desaparecimento da pequena Maddie, achei estranho que aquela vila recatada, tanto aprazível quanto familiar, fosse visitada por pedófilos ou traficantes de crianças, na medida em que, com excepção dos turistas estrangeiros que ultimamente assomam àquele local, só permitido pelo recente boom da construção de aldeamentos, mas cujo trânsito não chega a ultrapassar as duas semanas, os frequentadores habituais são as várias famílias que, de geração em geração, têm vindo a visitar, com regularidade, ano após ano, aquela zona do litoral algarvio.
Como eu, muitas foram as pessoas que este ano declinaram envolver-se no clima pesado que actualmente se respira na Praia da Luz. O impacto negativo na economia local já se começou a fazer sentir.
A família McCann não está a ter esse facto em consideração e as suas recentes atitudes para com a imprensa portuguesa não fazem mais do que iludir com astúcia um comportamento altamente culpável porquanto negligente da sua parte, em relação aos factos ocorridos. Estes pais estão a beneficiar de uma situação de excepção por parte da nossa polícia de investigação e dos seus respectivos meios, como nunca beneficiaram as famílias portuguesas queixosas de casos semelhantes. Deveriam, por isso, demonstrar maior respeito pelas nossas instituições e pelos portugueses propriamente ditos, aliás, como, decerto, sucederia num cenário com idênticas proporções, mas rodado em solo inglês.

quarta-feira, agosto 8

Álvaro Siza: A Modernist with a spirit of introspection


It's unlikely that the Portuguese architect Álvaro Siza will ever enjoy the fame of, say, a Rem Koolhaas or a Frank Gehry, architects who have vaulted to international attention by demolishing accepted orthodoxies.
For one thing Siza rarely builds outside Europe, while his celebrity counterparts shuttle around the globe.
He has spent his career quietly working on the fringes of the international architecture scene. He dislikes long plane flights, mostly because of a decades-long smoking habit and recent back problems. And he still seems most at ease in Porto, Portugal, his native city, where he can often be found sketching in a local café with a pack of cigarettes within easy reach.
Yet over the last five decades Siza, now 74, has steadily assembled a body of work that ranks him among the greatest architects of his generation, and his creative voice has never seemed more relevant than now.
His reputation is likely to receive a boost from his museum here for the Iberê Camargo Foundation, his most sculptural work to date. Its curvaceous bleached white exterior, nestled against a lush Brazilian hillside, has a vibrant sensuality that contrasts with the corporate sterility of so many museums today.
Yet to understand Siza's thinking fully, you must travel back to his earlier buildings. Set mostly within a few hours drive of Porto, an aging industrial hub in northern Portugal, they include a range of relatively modest projects, from public housing to churches to private houses, that tap into local traditions and the wider arc of Modernist history. The best of them are striking for a rare spirit of introspection. Their crisp forms and precise lines are contemporary yet atavistic in spirit. The surfaces retain the memory of the laborer's hands; the walls exude a sense of gravity.
His apparent reluctance to stray too far away from home is not simply a question of temperament. It is rooted in deeply felt beliefs about architecture's cultural role. In a profession that remains stubbornly divided between nostalgia for a saccharine nonexistent past and a blind faith in the new global economy, he neither rejects history nor ignores contemporary truths. Instead, his architecture encapsulates a society in a fragile state of evolution, one in which the threads that bind us need to be carefully preserved.
Nicolai Ouroussoff, IHT

terça-feira, agosto 7

A cadeira do poder


Três tipos de comportamento diferentes que correspondem a três personalidades distintas. Qualquer um deles poderá mudar o rumo das grandes linhas de orientação que têm conduzido os destinos do maior banco privado português.
Joe Berardo entrou pela porta da frente do Palácio da Bolsa, onde estava previsto realizar-se a assembleia geral do BCP, aparentemente sem segurança privada, e respondendo às perguntas que lhe foram colocadas pelos jornalistas. Jardim Gonçalves entrou pela “porta dos fundos”, devidamente acolitado pelos seus seguranças, deixando transparecer aquela expressão de homem seguro, tão característica de quem, à partida, já ganhou nos bastidores aquilo que seria incapaz de conquistar no terreno, a céu aberto, a partir de uma sessão de debate plural e esclarecedor sobre os métodos, sobre as práticas, sobre o rumo. Paulo Teixeira Pinto também entrou pela “porta dos fundos”, mas por razões visivelmente diferentes. Sobre os seus ombros jogava-se o futuro de uma instituição bancária reputada e representativa de grande parte do património financeiro português. Mas, Paulo Teixeira Pinto ficou muito aquém das expectativas que alguns accionistas depositaram nele, desde logo por ter retirado da ordem de trabalhos a proposta por si apresentada, e que previa o alargamento do número de membros do Conselho de Administração, permitindo-lhe, assim, uma gestão mais filtrada da influência exercida pelo presidente do Conselho Geral e de Supervisão do banco. Se Jardim Gonçalves quisesse a sua demissão, tendo a seu lado representada a maioria do capital accionista, então teria “permitido” a votação daquela proposta que seria liminarmente chumbada pelos accionistas seus apoiantes, sabendo, à partida, que a consequência directa resultaria no pedido de demissão de PTP, conforme foi veiculado pela imprensa. Este viria, pois, a ser o seu grande trunfo que não quis ou não soube aproveitar, tendo-se deixado influenciar pelos pareceres jurídicos presenciais, verdadeiros spin-offs da mudança na continuidade, que em tudo comprometem o seu projecto de definição estratégica delineado para a instituição.
O futuro dirá quem destas três personalidades sairá vencedor. Os vencidos já são conhecidos, entendem-se por todos os pequenos accionistas “indiferenciados” que confiaram os seus capitais a esta instituição, e que diariamente vêem os seus títulos desvalorizar perante a indiferença e a passividade destes agentes mobilizadores da instabilidade, fiéis defensores de uma linha de rumo traçada e orientada na primeira pessoa.

sexta-feira, agosto 3

O Da Politica em destaque no Público

Nos "Blogues em papel" do Público da edição impressa
de 25 de Julho.
Pode ler-se o post na sua versão completa aqui.

Da nomenclatura do voto


Foi uma decisão inteligente a de António Costa, o actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em ter firmado um pacto de entendimento com o candidato eleito do Bloco de Esquerda, José Sá Fernandes. De igual modo, aquele que eu entendo como um golpe de maestria que veio jogar a seu favor, foi a recusa de um entendimento político por parte de Helena Roseta, o que já era expectável e, na minha opinião, até desejável.
Francisco Louçã tem mostrado estar à altura das responsabilidades enquanto estratega e impulsionador de um projecto político que constitui a matriz de um espaço ideológico ocupado pelo Bloco de Esquerda.
De uma forma discreta, quase sem se fazer notar, vai tentanto reprimir, o mais possível, a sua impetuosidade, ao abandonar de uma forma lenta, mas progressiva, o discurso demagógico em tom sobranceiro, que tão bem tem caracterizado as suas intervenções públicas. Ele sabe que a franja da esquerda do eleitorado socialista poderá vir a ser-lhe favorável num futuro próximo, prometendo esta massa eleitoral vir a potenciar o crescimento do seu partido, dependendo do rumo que a respectiva linha programática vier a adoptar.
Make Love, Not War, é o fio condutor que vai ligar Helena Roseta ao futuro executivo camarário. Estão lançadas as bases para aquela que é a visão de uma gestão utópica por parte desta candidata eleita, que deitou por terra a oportunidade de vir a integrar aquela equipa de trabalho, com a atribuição de pelouros que lhe permitiriam participar activa e seriamente no processo de mudança que, estou certa, António Costa irá colocar em marcha. Velhas idiossincrasias que se sobrepõem ao aspecto prático da questão.
A Câmara Municipal de Lisboa precisa de uma gestão firme e determinada, sem atropelos e sem ter por base meros processos de intenção, para combater o paraíso fiscal da corrupção em que se transformou. O aparelho de gestão camarário não será nunca funcional com o corpo de funcionários de que dispõe, a dar sinais de incompetência, indolência e negligência, e que ainda representa grande parte do pessoal activo da Câmara, conforme facilmente se deduz pelos votos obtidos pelo candidato Carmona Rodrigues.