terça-feira, junho 26

Kaputt


Se o actual líder do PSD não é substituído brevemente, assim como toda a direcção, o partido corre o risco de ver ir por água abaixo todo o trabalho desenvolvido desde a sua fundação até à saída de Durão Barroso, por aqueles que são hoje considerados os militantes históricos daquele partido.
A estratégia que Marques Mendes tem vindo a adoptar para recuperar o eleitorado centrista é profundamente errada, não beneficia o partido, e só contribui para que a sua presença no espectro político-partidário seja cada vez menos expressiva.
O partido socialista que acaba de ocupar a face centrista da política e até parte da do centro-direita, resultando este facto das inevitabilidades da gestão governativa, por imposição das directivas que emanam do parlamento europeu, deslocou-se, também do ponto de vista ideológico, de uma posição de centro-esquerda para a de centro-direita, onde, tudo indica, irá permanecer. Isto só foi possível acontecer a partir do acto eleitoral que lhe deu a vitória, no seguimento do abandono das funções governativas por parte de Durão Barroso. Tenho a certeza de que se o executivo de DB se mantivesse hoje no poder, cumpriria precisamente o mesmo programa de reformas e a mesma política de investimento, à semelhança da que tem vindo a ser seguida por José Sócrates.
Portanto, Marques Mendes ao optar por contestar unilateralmente a política do governo, está a cultivar o divórcio entre o PSD e os eleitores que fazem parte daquela área política tradicionalmente afecta a esta circunscrição partidária.
A facção que representa a esquerda profunda dentro do partido socialista, afecta a Mário Soares, e que, presentemente, não oferece contestação no aparelho do partido, num futuro próximo, ou se constitui num partido autónomo sob o patrocínio de Manuel Alegre, ou acaba por ser absorvida pelo Bloco de Esquerda, se Francisco Louçã provar ser mais hábil do que Paulo Portas, no sentido de ser capaz de limar as diferenças entre estes dois eleitorados. O PSD precisará de um líder que se situe no universo ideológico do centro-direita - já que Paulo Portas, ao que tudo indica, muito dificilmente deixará de ser o “partido do táxi” – onde está situado o seu potencial eleitorado. Tentar disputar com o partido socialista aquele que é hoje designado como o eleitorado do centro não passa de uma quimera, depois das sucessivas etapas ultrapassadas com sucesso pelo executivo de José Sócrates, que irão culminar com a assinatura do futuro Tratado Europeu a ter lugar durante a sua presidência e o lançamento a concurso daquela que irá ser a obra emblemática do seu mandato, a construção do futuro aeroporto internacional de Lisboa.

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