terça-feira, novembro 20

Cooperações estratégicas bilaterais


Os nossos meios de comunicação social gostam muito de sangue. Durante o dia de ontem assistimos a especulações mediáticas q.b., dando-se lugar a práticas de conspiração dignas dos grandes clássicos policiais, e isto tudo por causa da visita-relâmpago do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a Portugal.
A inveja é um sentimento bastante negativo que habitualmente costumamos relacionar com o comportamento da pessoa humana. Mas não só. Ele pode também ser extensivo aos próprios Estados soberanos, representados pelos seus governantes, uns mais escrupulosos do que os outros, uns de uma forma mais velada, outros a céu aberto.
O recente acordo firmado entre a Galp e a Petróleos da Venezuela assegurando à petrolífera novas fontes de abastecimento de petróleo e gás natural, e as negociações com vista à entrada no capital da Galp Energia da empresa de gás russa Gazprom, através da participação accionista detida por Américo Amorim, pretendendo assim agilizar eventuais entendimentos para o futuro fornecimento de gás natural ao nosso país, foram classificadas pela embaixador dos Estados-Unidos em Portugal, de “relações perigosas” entre Portugal e a Venezuela e entre Portugal e a Rússia.
No que diz respeito ao sentimento espanhol perante o bom relacionamento entre José Sócrates e Hugo Chávez, a imprensa diária da especialidade que, reconhecidamente, vela pelos interesses espanhóis em Portugal, não tece criticas directas a este bom entendimento, mas está atenta, sobretudo depois da Espanha ter caído nas más graças do presidente Chávez, a partir do incidente ocasionado por um monarca que um dia decidiu descer do seu pedestal de mera figura decorativa para, com umas breves palavras proferidas, colocar o seu país inteiro em ebulição, abalando o seu consistente tecido económico e sendo, por último, obrigado a sofrer a maior das humilhações: pedir publicamente desculpas a Hugo Chávez.
Quanto aos Estados-Unidos, a reprovação do bom relacionamento entre Portugal e a Venezuela e entre Portugal e a Rússia, tem a ver com um sentimento de grande apreensão perante a proximidade, cada vez mais efectiva, da Rússia à Europa. É que mais cedo ou mais tarde, a Europa vai ter que optar entre a Rússia e os Estados-Unidos para seu parceiro estratégico. Com o crescimento das economias dos países emergentes a par das sucessivas défaites que têm sido apanágio da sua política externa, a América tenderá a deixar de ser a maior potência mundial a nível económico, político e militar, mais cedo do que se possa imaginar.

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