quinta-feira, novembro 15

Perspectivas social-democratas sobre o parque museológico nacional


Não estou disposta a partilhar com uma ex-militante do partido comunista, horizontes culturais circunscritos ao espólio patrimonial do Museu de Arte Antiga português.
Num artigo publicado hoje no Público, Zita Seabra diz que é preciso inverter a política seguida e as prioridades estabelecidas para a Cultura, tecendo críticas cerradas à exposição recentemente inaugurada no Palácio da Ajuda, contendo algumas peças da colecção de “Pedro «o Grande» a Nicolau II, vindas expressamente do Museu Hermitage de São Petersburgo, na Rússia.
Aproveitando o ensejo, critica igualmente, se bem que, de uma forma velada, a instalação da colecção Berardo no Centro Cultural de Belém pelo “acordo de custo inexplicável para o Estado”.
No primeiro caso, trata-se de uma primeira fase de um processo cujo objectivo final é instalar em Portugal um pólo do Museu Hermitage, aquele que virá a ser o terceiro em toda a Europa, depois de Londres e Amsterdão.
No segundo caso, e se tivermos em conta o grau de relevância reservado pelos anteriores governos à temática da cultura em Portugal, no sentido da divulgação da arte pós primeira e segunda grandes guerras mundiais e das novas tendências artísticas, no âmbito das artes plásticas do virar do século, ao invés de se criticar a política cultural do Ministério da Cultura, esta deveria tão somente ser merecedora de um vivo aplauso, pela coragem que acompanha a tentativa de aproximar o nosso país dos centros turísticos culturais europeus de primeira linha. É disso prova o elevado número de visitantes, nacionais e estrangeiros, que diariamente assomam a estes dois grandes espaços culturais.
Por outro lado, não é de todo incompatível a manutenção destas duas relevantes exposições com a reforma e revitalização do parque museológico nacional, que está previsto levar a cabo e que todos os dias suscita altas polémicas.
A revitalização desse espaço terá, porventura, muito menos a ver com as verbas orçamentais disponibilizadas, e muito mais com um projecto de reforma profunda que passe pelo encerramento de Museus e Casas Museu espalhados ao longo do país, cuja existência, para além de gerar despesa sem contrapartida, só fará sentido, a meu ver, desde que reunido o respectivo espólio em duas ou três unidades culturais, a serem localizadas em zonas de maior fluxo turístico, pois, como afirma, e bem, a deputada social-democrata, “o turismo cultural é hoje uma receita importantíssima em qualquer país que se preze”, desde que se atente aos critérios de selecção a presidir no sentido da captação do tal turismo cultural, e também, partindo do princípio de que ambas as opiniões, a minha e a da senhora deputada, partem de um mesmo conceito. Porque se esse turismo cultural de que fala Zita Seabra, não tiver uma relação de causa e efeito no que diz respeito ao aumento das receitas geradas pela indústria hoteleira, ficando-se unicamente pelo adensar da população campista itinerante, então poderá não valer pena; posto que esse é o tipo de turismo que suja mais do que consome.

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