sexta-feira, novembro 9

Portugal dos pequeninos


O último programa da Quadratura do Circulo, foi dos melhores programas de debate de ideias a que eu já assisti naquele espaço, nos últimos tempos.
Tenho criticado nos meus posts, de uma forma independente e descomprometida, algumas das posições de cada um dos intervenientes, tendo sido a minha última crítica dirigida ao Dr. Jorge Coelho, pela posição que defendeu em relação à polémica das escutas telefónicas. Mais tarde veio a verificar-se que a minha “tese” não era de todo destituída de sentido, posto que o mesmo tema acabou por ser abordado e discutido na Comissão Parlamentar, Direitos, Liberdades e Garantias na presença do PGR e, posteriormente, veiculado pelos próprios órgãos de comunicação social.
Mas voltando ao teor do programa a que me refiro acima, o tema central foi indiscutivelmente a linha programática que o novo presidente do partido social democrata tem vindo a defender, e que corta de uma forma radical com todas as anteriores posições políticas defendidas por Marques Mendes, e que serviram de base à praxis política conduzida pela sua oposição ao governo.
O Dr. Pacheco Pereira é nitidamente contra um regime parlamentar que tenha assento num bloco central alargado entre os dois maiores partidos do espectro politico-partidário, o PS e o PSD. Receia, portanto, que uma convergência concertada de linhas programáticas estimule o efeito “corrupção” no Estado de direito, nomeadamente quando envolvido o sector da construção civil, tradicionalmente e alegadamente o sector financiador dos partidos políticos. Escusado será dizer que a mesma opinião tem o Dr. Lobo Xavier, por tal sinal até bastante compreensível, na medida em que sem a alavanca do PSD, o seu partido nunca mais fará parte de qualquer governo.
O Dr. Pacheco Pereira, na qualidade de legítimo representante de uma elite partidária ainda com pretensões políticas dentro do PSD, está apostado em desmoralizar o actual presidente do seu partido, começando por criticar a “colagem” que este pretende fazer das directivas governamentais a adoptar no plano da política de investimento e da gestão dos fundos comunitários. Finalmente, a partir deste raciocínio pode-se facilmente concluir que é através da rotação de cadeiras, ou seja da alternância no poder dos dois principais partidos políticos, que funciona a esfera de influência exercida pelo sistema partidário hoje existente, a que permite aos militantes prosperar por conta do erário público e a que permite gerir os grupos de influência que irão mais tarde alimentar o poder corporativo.
Bem vistas as coisas, é esse o poder que nos governa, o qual já dispõe de lugar cativo nesta espécie de democracia que nos habita, e que se tem vindo a perpetuar ad eternum, não passando o chefe do executivo de uma espécie de “folha de rosto” de um caderno em cujas páginas se inscreve a metodologia obscurantista e diletante associada ao invólucro de uma prática governativa itinerante, propiciada pelo sistema democrático que vigora.
O Dr. Jorge Coelho deu como exemplo de prosperidade, Espanha, um pais que cresceu na base de um entendimento político para as grandes linhas de orientação estratégica. Enquanto continuarmos a "assobiar para o alto", culpabilizando os governos pelo baixo índice do crescimento económico, sem mudar as regras do jogo, não passaremos do pequeno país periférico que na realidade somos, aos olhos da comunidade internacional.


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