domingo, outubro 7

Democracia: Myanmar - O papel da China no conflito

"Burmese Faces", fotografia de Rodrigo Adão da Fonseca
no
Blue Lounge
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A comunidade internacional tem feito apelos incessantes junto das autoridades chinesas no sentido de estas exercerem toda a sua influência em torno da Junta militar birmanesa para por fim aos actos de violência praticados contra os revoltosos em Rangoon.
Numa entrevista dada a um jornal alemão, Javier Solana referiu que todos os países que têm influência nas decisões dos que detêm o poder em Myanmar, deveriam começar a agir rapidamente, especialmente os seus vizinhos mais directos, como é o caso da China.
A comunidade internacional tem-se mostrado activa neste conflito, recorrendo, para além da pressão diplomática, à via da imposição de sanções económicas. O Japão, um dos maiores países doadores e investidores em Burma, pretende que sejam punidos os autores do disparo que vitimou o jornalista da Agência France Press sediada em Tokyo, prometendo suspender todo o apoio financeiro, à semelhança do que aconteceu em 2003, quando mandou cancelar os empréstimos de taxas de juro bonificadas, destinados aos grandes projectos de infra-estruturas, em protesto contra a detenção sistemática do líder pró-democracia Aung San Suu Kyi.

No entanto, a China é o principal país protector do regime militar de Myanmar, e tem tentado obstaculizar todas as tentativas internacionais para fazer cair o regime. Com o apoio da Rússia, impediu, há cerca de nove meses, através do veto, uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que visava autorizar o secretário-geral da ONU a negociar directamente com a Junta militar birmanesa.
Apesar de afirmar que não é sua intenção imiscuir-se na política interna dos outros países, o seu apoio ao actual regime militar birmanês é claro e efectivo. Tem vindo a ajudar financeiramente à construção das infra-estruturas rodoviárias e de barragens naquele país, mantendo, em contrapartida, interesses em sectores chave da economia birmanesa, para além de, nas cidades, já habitar um número considerável de cidadãos chineses.
Assim sendo, e conhecendo nós a sua forma de actuar em matéria de democracia e direitos humanos (vide a sua posição inicialmente intransigente em relação ao Darfur), o que levaria a China a exercer uma influência positiva sobre o regime militar birmanês? Por um lado os interesses económicos, por outro lado a sua imagem junto da comunidade internacional, sobretudo às vésperas da realização dos jogos olímpicos em Pekin.
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Para a China será sempre preferível a negociação à repressão e à instabilidade que poderiam resultar de um banho de sangue em Myanmar. Apesar do regime militar birmanês ter vindo a desmantelar todas as estruturas políticas da oposição, mantem-se intacto o partido pró-democracia de Aung San Suu Kyi que tem o apoio da comunidade monástica. A via da negociação seria convencer os militares a fazerem a transição pacífica para um regime constitucional, o que resultaria no interesse de todas as partes envolvidas, incluindo a dos próprios militares.
Se for intenção da China preservar os seus investimentos e assegurar a estabilidade regional, é necessário que compreenda que é de todo o seu interesse apoiar uma tal transição, em vez de ajudar à viabilização de ditaduras instáveis.
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Fonte: The Sydney Morning Herald

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