quinta-feira, outubro 11

O Paradoxo do Ornitorrinco


Paradoxal e geradora de controvérsia é a forma que José Pacheco Pereira encontrou para levar ao conhecimento público mais alargado, a crítica acutilante que tem vindo a fazer no seu blogue a todos os militantes do PSD que entenderam não favorecer a candidatura de Marques Mendes pela enésima vez. Através da edição de um livro contendo textos dirigidos ao “gang” dos social-democratas, aproveita para daí tirar os seus dividendos, num rasgo de autêntica perda de noção do ridículo.
Não entendo como, sendo JPP um historiador de nomeada, ao qual se lhe atribui e muito justamente o estatuto de intelectual, não se tenha ainda apercebido que o principal culpado da facção Mendista ter sido afastada de uma forma expressiva dos órgãos do poder daquela estrutura partidária, é justamente José Sócrates que veio ocupar o espaço político correspondente a uma terceira via do exercício do poder (à la Blair), mas que, em princípio, estaria mais dentro do espírito social-democrata e da sua linha programática.
A história é feita de ciclos e a dos partidos políticos também. Com esta ocupação do seu espaço, ao PSD caber-lhe-ia reformular toda a sua linha programática, modernizá-la, inovando-a ideologicamente, entrando pela via da direita liberal, e tentando abrir caminho a uma área politico-ideológica praticamente inexistente em Portugal, mas que, futuramente, irá ter lugar no plano de uma “politica globalizada” a ser exercida pelos órgãos do poder central no âmbito da União Europeia, como resultará das convenções internas que entretanto irão sendo acordadas e subscritas, de modo a abranger todos os países que dela fazem parte.
Toda a liderança social-democrata que não enveredar por esse caminho, propondo-se unicamente disputar com José Sócrates o mesmo ideário político, a mesma linha de actuação que não inova, que visa alcançar os mesmos objectivos só que com armas diferentes, arrisca-se a ficar eternamente refém da sua posição de maior grupo parlamentar da oposição. No final do seu segundo mandato, o actual partido socialista já terá atingido o grau de saturação aos olhos da opinião pública; impõe-se, portanto, que a alternativa se apresente promissora e credível, no sentido de ser capaz de dar continuidade ao projecto iniciado, dando-lhe consistência. Não sei se Luís Filipe Menezes será o líder ideal para levar a cabo essa empreitada, mas na falta de alternativas é preciso, pelo menos, que lhe seja dado o benefício da dúvida.

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