sábado, agosto 11

O caso insólito da Praia da Luz


Oito horas da manhã. Acabo de estacionar o automóvel no empedrado junto à praia e dirijo-me em direcção ao areal pela passagem pedonal que tem a forma de uma passadeira de madeira.
Ao fundo, junto ao mar, o som emanado pela rebentação das ondas chega até à minha percepção misturado com umas notas musicais que se soltam de um instrumento algures perdido nas mãos de alguém que, como eu, pretende usufruir da privacidade e da tranquilidade que aquele espaço nos reserva.
Já há alguns anos que, invariavelmente, passo férias na Praia da Luz. Uma vila pacata, onde reside uma comunidade inglesa já com alguma projecção, disseminada por vários extractos sociais, que controla quase todo o comércio local, incluindo a exploração dos resorts, dos restaurantes, dos bares, das casas de diversão nocturna etc.
Quando tive conhecimento do desaparecimento da pequena Maddie, achei estranho que aquela vila recatada, tanto aprazível quanto familiar, fosse visitada por pedófilos ou traficantes de crianças, na medida em que, com excepção dos turistas estrangeiros que ultimamente assomam àquele local, só permitido pelo recente boom da construção de aldeamentos, mas cujo trânsito não chega a ultrapassar as duas semanas, os frequentadores habituais são as várias famílias que, de geração em geração, têm vindo a visitar, com regularidade, ano após ano, aquela zona do litoral algarvio.
Como eu, muitas foram as pessoas que este ano declinaram envolver-se no clima pesado que actualmente se respira na Praia da Luz. O impacto negativo na economia local já se começou a fazer sentir.
A família McCann não está a ter esse facto em consideração e as suas recentes atitudes para com a imprensa portuguesa não fazem mais do que iludir com astúcia um comportamento altamente culpável porquanto negligente da sua parte, em relação aos factos ocorridos. Estes pais estão a beneficiar de uma situação de excepção por parte da nossa polícia de investigação e dos seus respectivos meios, como nunca beneficiaram as famílias portuguesas queixosas de casos semelhantes. Deveriam, por isso, demonstrar maior respeito pelas nossas instituições e pelos portugueses propriamente ditos, aliás, como, decerto, sucederia num cenário com idênticas proporções, mas rodado em solo inglês.

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