terça-feira, agosto 14

Intolerância


O próprio escritor Miguel Torga, estaria longe de pensar que, passados dezoito anos sobre a sua morte, viesse a ser o pólo catalizador de um tão alto momento de oposição política ao governo, por parte de todos os partidos com assento parlamentar, dos quais me permito destacar o mais importante: o temível, o poderoso e o resistente, “incrível PSD”, cujo líder, que tanto combateu o caciquismo nas autarquias, vem agora caucionar o terrorismo insular à la Jardim, com os olhos postos na contabilidade eleitoral, tornando-se assim no novo Fausto da vida pública nacional. (sic)
Chamaram a si o dever de se opor todos aqueles que não sendo políticos profissionais se preocupam com a inoperacionalidade de certos orgãos institucionais que tutelam a área da saúde pública em Portugal, ou que têm a seu cargo a gestão das plataformas logísticas relacionadas com a circulação de pessoas e bens, nomeadamente no que concerne aos sistemas de “handling” dos nossos aeroportos. Dois dos actuais temas fracturantes a envolver a sociedade civil, que deveriam merecer a melhor atenção dos nossos governantes e também das respectivas forças da oposição.
Posso ser tolerante com a falta de comparência da Sra. Ministra da Cultura nas cerimónias comemorativas do centésimo aniversário do poeta e escritor Miguel Torga, mas serei inexoravelmente intolerante pelos 20 mil doentes em lista de espera há mais de dois anos ou pelos doentes que esperam mais de um ano para serem operados ao cancro.
(sic)
Neste último caso, e do ponto de vista da constitucionalidade, estaremos perante a prática de um ilícito cuja leitura jurídica não ficará muito aquém do quadro legislativo que aponta para a figura do homicídio por negligência. A política reformista que o governo tem levado a cabo na área da saúde, deveria ser extensiva à criação de condições que permitissem suprimir definitivamente o problema das listas de espera que desde há vários anos se tem vindo a transformar numa autêntica “doença” endémica. Torna-se urgente que o governo disponibilize meios que possibilitem inclusivamente que os doentes sejam deslocados para outros países em que a oferta dos meios técnicos e humanos, no domínio da cirurgia, seja superior à da procura.
A minha inexorável intolerância é igualmente extensiva à completa incúria que se está a passar com a gestão dos sistemas de “handling” do nosso sector aeroportuário, resultante do blackout que se instalou no tratamento das bagagens e nos contínuos atrasos com o cumprimento dos horários das carreiras de voo. O regresso de férias está a ser para milhares de portugueses, em especial os que usam o Aeroporto Sá Carneiro, uma experiência aterradora, os abusos da TAP são conhecidos mas desde há algum tempo acrescentaram-se os conflitos entre a TAP e a Groundforce. (
sic)
Também aqui o governo parece passar ao lado de uma realidade que denota a incapacidade de lidar com um problema que terá essencialmente a ver com as greves que têm vindo a ter lugar, sob o patrocínio do Sindicato dos Técnicos de Handling, e cujas datas foram cirurgicamente escolhidas, para a época estival. O bom funcionamento das estruturas de apoio ligadas à aviação comercial, está directamente relacionado com o sucesso dos índices de crescimento da nossa indústria turística, um dos motores do desenvolvimento da nossa economia.

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