quinta-feira, julho 26

La balsa de Iberia

Em tom de provocação, o escritor José Saramago deu uma entrevista ao Diário de Notícias, em que anunciava, à guisa de profecia, a futura integração do nosso país político naquele que viria a ser um conglomerado de pequenos estados federados da península ibérica.
Nós sabemos que José Saramago sofre da síndrome do emigrante que nunca será completamente aceite pelo país que o acolheu, assim como, pelo seu país natal, quando regressa, por se terem perdido os laços de afectividade que a ele o ligavam , fruto da implacável passagem do tempo.
Acresce ainda o facto de se tratar de uma figura pública que gera controvérsia, em virtude de, em termos políticos, abraçar uma causa que, do ponto de vista ideológico, já não se apresenta como solução credível para os crescentes problemas sociais que emanam de um certo evoluir negativista incontinente da nossa civilização.
Aliás, uma boa parte da sua obra é o reflexo de um sentimento de abandono, de incompreensão e de desamor, transportado para as suas personagens, pelo acentuar do lado mais negativo, e também mais desgraçado, do ser humano, num processo de interacção entre o indivíduo, a sociedade e a entidade reguladora do poder político.
Sem pretender desmerecer a sua obra, até porque não sou crítica literária, sinto que se encontra subjacente às suas últimas manifestações de carácter, uma certa arrogância que tem andado de mão dada com o galardão das Letras que lhe foi atribuído pela Academia Sueca, em 1998, nomeadamente o Prémio Nobel da Literatura.
Portugal tem excelentes escritores, e cito, por exemplo, Agustina Bessa-Luís, todos eles potenciais candidatos à atribuição daquele galardão, não fossem os critérios que presidem à respectiva selecção, de algum modo, bastante discutíveis.
De Espanha, muitas foram as reacções às declarações de José Saramago, na imprensa escrita, das quais apenas cito uma. A discordância quanto a uma possível integração é generalizada; não pretenderão naturalmente, os espanhóis, enfrentar a versão lusa de uma segunda ETA, a destruir-lhes as casas e as respectivas famílias.

Sem comentários: