terça-feira, setembro 4

Parceria AP-6 - Mudanças climáticas


Não há-de faltar muito tempo para que o Canadá venha a fazer parte daquele que é descrito como o “clube dos cépticos” do protocolo de Kyoto, a chamada Parceria Ásia-Pacífico para o clima. Este grupo de seis países (Estados-Unidos, Austrália, Coreia do Sul, Japão, China e Índia) prefere contar com a boa vontade dos países e com o avanço da tecnologia, como solução para a redução das emissões de gás com efeito de estufa, em vez de ter que obedecer às normas internacionais estabelecidas pelo protocolo de Kyoto.
Altos funcionários canadenses que irão acompanhar o primeiro-ministro Stephen Harper à Austrália para a cimeira Ásia-Pacífico (APEC) a realizar na próxima semana, confirmaram, em conferência de imprensa, que o Canadá irá oficialmente solicitar a sua adesão ao grupo dos seis, nomeado AP-6, para as questões climáticas, na esperança de vir a ser aceite como membro pelo referido grupo, com o qual partilha já outros interesses.
Esta parceria ainda não agendou os pontos a serem discutidos nessa cimeira, quanto ao objectivo e à obtenção de resultados vinculativos sobre a questão da redução das emissões de gás com efeito de estufa. Trata-se essencialmente de dar início às discussões, que serão encabeçadas pelos dois países que sempre se opuseram às determinações de Kyoto, o Japão e a Austrália, e que, no passado, tentaram convencer outras nações a virar as costas aos objectivos traçados pelo referido protocolo.

A algumas semanas do início das negociações internacionais que irão levar à segunda fase do protocolo de Kyoto, os ambientalistas não estão seguros de que o sinal enviado pelo Canadá traga algo de positivo.
O primeiro-ministro Harper, aproveitará a cimeira da APEC que reune 21 chefes-de-Estado cujos países são banhados pelo oceano Pacífico, e que terá lugar em Sidney, nos dias 8 e 9 de Setembro, para, à margem desta cimeira, formular o seu pedido oficial de adesão ao grupo dos seis (AP-6), cuja Parceria funciona autonomamente em relação aos países que constituem a APEC.
Harper é um grande defensor da Parceria AP-6 para o clima, que foi lançada pela Austrália e pelos Estados-Unidos em Julho de 2005, tendo a primeira reunião tido lugar em Janeiro de 2006.
Quando o primeiro-ministro australiano John Howard visitou o Canadá em Maio de 2006, referiu que se tornava necessário encontrar um meio de reduzir as emissões de gás com efeito de estufa sem ser necessário pagar um preço do ponto de vista económico. Apesar dos ambientalistas estarem convencidos que a solução passa pelo protocolo de Kyoto, John Howard entende que a Parceria AP-6 está mais perto de atingir essa solução.
O optimismo à volta das suas declarações, deve-se ao facto de esta Parceria incluir os principais países emissores de CO2, os Estados-Unidos, a China e a Índia, esperando-se, assim, que uma solução venha a ser encontrada, como é do seu interesse, apesar de ainda não se conhecerem as medidas que irão ter lugar, e que resultarão dos benefícios propostos pelo avanço tecnológico.

Ao contrário das reuniões sobre Kyoto, tidas no âmbito da ONU, não são admitidos representantes da sociedade civil nos encontros da Parceria AP-6, pelo que é difícil conhecer o conteúdo das respectivas discussões. Por outro lado, examinando o organigrama do grupo, constata-se que os Estados-Unidos dirigem o comité mais importante que supervisiona todas as reuniões (Policy and Implementation Committee), assim como o comité encarregado pelo suporte dos trabalhos dos oito comités sectoriais (Administrative Support Group). O Japão que é o único país da Parceria AP-6 a participar activamente na fase actual de Kyoto, tem um papel marginal no seio deste grupo.

As associações ambientalistas do Canadá não vêm com bons olhos a participação do seu país neste reagupamento da AP-6, que não é bem tolerado pelos Estados que compõem Kyoto, sendo o Canadá um deles, apesar de ter virado as costas aos objectivos do protocolo.
Na opinião de Clare Demerse, analista política no Instituto Pembina, as démarches a serem realizadas pela AP-6 no âmbito desta temática, restringir-se-ão a meras discussões e declaração de intenções, não se prevendo dali obter resultados concretos; essa é a grande diferença em relação a Kyoto. Contudo, torna-se urgente agir contra as mudanças climáticas, pelo que seria uma verdadeira catástrofe que da parte dos intervenientes em todo este processo, fosse dada maior ênfase à Parceria AP-6 do que às disposições estabelecidas pela segunda fase de Kyoto.
Um outro analista político, Jean-François Nolet afirma que esta Parceria foi criada pelos Estados-Unidos e pela Austrália com o fim de desviar as atenções do protocolo de Kyoto, e tentar diluir as negociações sobre o tema, e acusa o actual governo do Canadá, conservador, de ter tendência a jogar o “cavalo de Tróia” nas negociações internacionais sobre as mudanças climáticas, tendo-se colocado claramente ao lado dos dois países fundadores da referida Parceria

Fonte: Le Devoir, Ottawa, Canadá

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