sexta-feira, setembro 14

Prioridades no investimento


A visão catastrofísta do Dr. Medina Carreira sobre a economia portuguesa, sobre as políticas governativas, sobre os políticos, sobre os partidos, sobre as instituições públicas, já deveria começar a incomodar-nos um pouco, apesar de se tratar de uma figura pública cujas análises, do ponto de vista económico, de um modo geral, costumam encerrar verdades inquestionáveis.
Em entrevista dada ao Diário Económico, e nas vésperas do lançamento do seu livro “O Dever da Verdade”, Medina Carreira tece críticas às prioridades do governo em matéria de investimento na área das grandes infra-estruturas, como seja a construção do novo aeroporto na Ota ou o comboio de alta velocidade – TGV.
Dando como exemplo os países ricos do norte da Europa: a Dinamarca, a Suécia, a Finlândia e a Irlanda, para justificar a desnecessária construção do TGV, exemplifica de uma forma minimalista os benefícios futuros a retirar da construção dessa infra-estrutura – ganhar meia hora para o Porto ou quinze minutos para Coimbra -, quando, na realidade, o que está em causa é ligar o nosso país ao centro da Europa, através de um meio de transporte alternativo ao da navegação aérea, não acessível a todas as bolsas e de uma maior "exigência protocolar”. A não ser que o Dr. Medina Carreira esteja a pensar na plausibilidade da criação do tal estado ibérico destinado à absorção de Portugal, em que todas as grandes infra-estruturas fossem deslocadas para aquela que viria a ser a “capital estadual” – leia-se todas as grandes cidades espanholas em potencial -.
Os mencionados países nórdicos por serem economicamente independentes, por não terem uma cultura mediterrânica e por razões geneticistas, estão muito mais próximos dos países que fizeram parte da ex-União Soviética, Rússia incluída, do que de uma Espanha, de uma França, de uma Alemanha, de uma Holanda ou de uma Itália, como é o caso português.
A Dinamarca que é o único país com ligação por terra ao coração da Europa, tem mostrado estar muito mais interessada na aproximação aos países do bloco nórdico do continente europeu, com os quais mantem relações estreitas e pontos de vista em comum, no que diz respeito à partilha dos grandes projectos que envolvem as redes rodoviárias, no pressuposto de que essa expansão se faça de baixo para cima e não de cima para baixo, excepção feita à área territorial adjacente composta pelo Reino Unido.
“Semear para colher” deveria ser o lema de qualquer governo que tem como meta promover o desenvolvimento do seu país numa óptica de equidade em relação aos países que se encontram acima da linha de água do contexto europeu das Nações. A minha geração e a dos que me sobreviverão, não pode ser culpabilizada pelos efeitos que resultam de um século da história em que predominou ora uma politica de ditadura ora de “ingovernabilidade”, e/ou alternadamente de “desgovernabilidade”.

Sem comentários: