sábado, setembro 1

O assalto


Faço duas leituras da demissão de Paulo Teixeira Pinto do grupo Millennium BCP.
A primeira é para mim a mais verosímil, aquela que surge no seguimento de declarações anteriores suas, em que aceitava demitir-se num quadro de reciprocidade de posições, envolvendo o Presidente do Conselho Geral e de Supervisão desta instituição, Jorge Jardim Gonçalves. O timing a decorrer entre cada anúncio público só se justificando por força do cumprimento do preceito hierárquico que assiste ao fundador do banco, com a finalidade de preservar a sua imagem e o seu estatuto de gestor-administrador preferencial.
Subjacente a esta minha primeira leitura, estaria igualmente em cima da cima um acordo de cavalheiros entre o BCP e o BPI, naquela que viria a ser uma fusão amigável entre estes dois grandes grupos financeiros. Daí a saída de Teixeira Pinto que, numa entrevista à Sic Notícias, confirmou a sua intenção em se demitir, caso este cenário se viesse a verificar.
A minha segunda leitura dos acontecimentos dos últimos dias, que corresponde àquela que a imprensa tem em mãos, será verdadeiramente trágica para o grupo BCP como nós o conhecemos. Um punhado que apelido, simpaticamente, de sexagenários, decide tomar de novo as rédeas do poder, acolitado por uma horda de promissores delfins a futuros guardiães do templo, numa óptica de mudança na continuidade e de salvaguarda das suas posições de privilégio, em que a estratégia de desenvolvimento do grupo passará seguramente pelo acesso a um tipo de mercado financeiro mais fechado, porquanto mais elitista, menos massificado, porquanto menos permeável às operações hostis de aquisição, vindas do exterior, sobretudo do espaço ibérico. Fica a pairar a dúvida se, num tempo de economia globalizada, uma instituição bancária com estas características, sobreviverá.
Entre estas minhas duas leituras, a primeira representaria sempre uma mais-valia para o nosso país, na medida em que a linha de rumo defendida por Paulo Teixeira Pinto, passava pela incursão nos mercados financeiros das economias emergentes, nomeadamente a de Angola, país que, com todas as suas idiossincrasias políticas, está hoje a transformar-se num grande mercado de oportunidades sustentado pelos ganhos provenientes da comercialização dos combustíveis fósseis, podendo ser amanhã o motor de desenvolvimento de grande parte dos países que integram o continente africano. Países de expressão portuguesa cujas raízes se entrecruzam com as nossas, por razões históricas e culturais.

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